{Devaneios - 04} Onde está Jesus na sua vida? Parte 1

15 de agosto de 2018





Imagem: pixabay.com


Onde está Jesus na sua vida? Parte 1

Jamais esqueci essa pergunta que um dia me fizeram. Esperava o momento certo pra responder e acho que o momento chegou.
Essa pergunta partiu de uma colega cristã que estranhou minha mudança de comportamento em relação à religião.
Muita gente já sabe, outras ainda não.. mas eu era cristã (evangélica, gospel, protestante), e me criei enfiada dentro da igreja. 
A família toda é evangélica, então, cresci nesse meio.

A primeira vez que fui à igreja por escolha minha foi aos 10 anos, e escolhi ir para a igreja catolica, já que as amiguinhas da época também iam. Lembro-me que comecei a frequentar a escola de catequese.. Um dia, a professora nos deu uma lição pra fazer: escrever os dez mandamentos no caderno. Fiz minha lição alegremente, até que chegou o momento de escrever: "não farás para ti imagens de escultura...." o que me deixou muito encabulada.

Questionei na escola: "professora, porque aqui na bíblia diz que não podemos ter imagens e a igreja é cheia de imagens?"

Fui expulsa da escola. E da igreja. É sério mesmo! E eu estava tão feliz.. já estava me envolvendo com as atividades da eucaristia, as festas, os grupos ..... mas enfim.. uma questionadora não pode frequentar igrejas, concorda?

Pois bem, aos 11 anos, lá fui eu para outra igreja. E lá, mais uma vez, arrumei encrenca. Porque tenho que usar saias? Porque não posso ver tv? Porque não posso cortar o cabelo curtinho? Mas, a partir dali, me submeti. Parei de questionar porque acreditava que iria para o inferno se não obedecesse às regras da igreja.

E lá fiquei, 5 anos. Até que mais uma vez, fui expulsa. Aos 16 anos. E eu te conto porque... me expulsaram, a mim e ao meu namorado da época, porque transamos. É sério. Acreditem. Me disseram que eu não era mais filha de Deus, que o Espírito Santo havia se retirado de mim, que eu era uma pecadora, que não poderia ser perdoada, que estava manchada.. e blablabla.

Me afundei. Senti minha vida acabar. Chorei. Implorei à Deus que me perdoasse. Fiquei deprimida. Achei que tinha acabado pra mim. Foram dias terríveis.

Aos 18 anos, me reaproximei da igreja que haviam me expulsado. Lá, Deus "revelou" que eu estava perdoada e que poderia voltar às atividades dentro da igreja. Fiquei feliz, né? Afinal, Deus me perdoou!! Logo eu, uma pecadora imunda, suja, prostituta... blablabla... 

Mas, foi a partir de então, que aquela Andressa questionadora reapareceu. Lembro-me de novamente perguntar porque as mulheres na igreja não podem usar saias.. perguntei onde estava isso na Bíblia... ganhei como resposta: "as coisas de Deus você tem que aceitar, não questionar." Detalhe importante: Todos esses anos que frequentei igreja nunca houve estímulos dos lideres para que os membros estudassem a bíblia. NUNCA. Nós nunca estudamos a biblia dentro da igreja. Em nenhuma igreja há o estudo sério e não partidário da Bíblia. Não há. Mas isso é assunto para outro devaneio.. 

Ok, então.. logo mais, questionei: "Tá, que Deus é esse que te manda para o inferno por um "pecadinho" besta, mas não se importa com todo o amor e dedicação que você teve à Ele ao longo dos anos?" Isso ficou martelando demais na minha cabeça, e comecei a ver que muita coisa dentro da igreja não fazia sentido.. ainda assim, o medo do inferno era assustador.

Aos 19 anos, resolvi sair daquela igreja. Agora, eu era uma perdida, desgarrada. Ovelha negra. 

Iniciei então o curso de Teologia. Aquilo foi um choque terrível, mas, ao mesmo tempo, libertdor! Questionar.. era isso! 

Tive um professor de Antigo Testamento.. que cara maravilhoso.. um pastor, da presbiteriana renovada. Esse cara foi fundamental no meu processo de desintoxicação do sistema religioso. (queria muito encontrá-lo para agradecer)

Fui parar em outra igreja. Assembléia renovada. Foi um choque cultural, dogmático e doutrinário. Nunca vi tamanha blasfémia.. mulheres de calça? Cabelo curto? Bater palmas? DANÇAR DENTRO DA IGREJA? Fiquei horrorizada... mas, se estava deixando crenças para trás, então era hora de seguir em frente.

Aos 22 anos me casei. Vim pra SP. Frequentei a igreja que meu marido frequentava na época, a Presbiteriana. TRADICIONAL. Gente, sabe aquele efeito sanfona de quem está tentando emagrecer? Pois é... mas, o meu ímpeto questionador estava só começando... era sensacional fazer os questionamentos na escola dominical e ver o pastor ficar branco por não ter uma resposta.. senti que estava no caminho certo.

Mas, mais uma vez, a minha busca por um caminho onde eu pudesse encontrar O Cristo, verdadeiramente, ainda não havia terminado. Tudo o que eu buscava nas igrejas não era comunhão com os "irmãos", ou, fazer parte de alguma atividade.. minha fome e minha sede eram de DEUS. Eu não estava encontrando Deus nas igrejas... e então, meu marido também questionador, e eu, resolvemos sair dessa igreja e ir em busca de uma outra, onde Deus pudesse estar.

Fomos em várias outras igrejas, até que decidimos ficar em uma parecida com aquela Assembléia renovada blasfemadora que encontrei lá atrás.. e os questionamentos.... ahhhhhhhh, gente!! Não dava!! Eu vivia indignada com tamanha falta de compreensão bíblica que esse povo tem.. é cada sandice que se prega que me dá arrepios. Uma das coisas que mais de davam desespero era o tal do "falar em línguas".. se você não fala em línguas, cara, você não tem o Espírito Santo. E se você não tem o Espírito Santo, que tipo de crente é você? Mas eu estudava a bíblia. Eu questionava. E eu sabia que falar em linguas de forma incompreensível não era o mesmo falar em línguas descrito na Bíblia. Aliás, todo mundo sabe disso.. mas parece que não querem ver porque quando você começa a balbuciar aquelas sílabas incompreensíveis te trás a sensação de poder, de que você é ungido, alguém especial, cheio do Espírito Santo.. e como tirar isso de alguém?

E um dia, estava eu em um dos retiros que a igreja realizava, e numa dada sessão do encontro, chegou a hora do "batismo com o Espirito Santo". Uma das pastoras ali, segurou minha mão e disse: "fala em línguas agora. Abre a boca e começa a falar".. tranquei minha boca, e meu coração dizia: "Senhor, tem misericordia, essa mulher não sabe o que tá fazendo".. é eu sei, eu era bem ousada... e aquilo ali foi a gota pra mim. Cansei. Não aguentava mais viver uma vida hipócrita, empurrar com a barriga.. era bem essa a sensação sabe, eu não gostava de estar nas igrejas, eu não gostava do que era ensinado lá dentro, eu empurrava as minhas "obrigações" lá dentro com a barriga porque eu tinha medo de chutar o balde e Deus me condenar ao inferno.

Sim, a gente vai pra igreja por medo do inferno. E não venha me dizer que é por amor à Deus porque o amor que os cristãos sentem por Deus é um amor interesseiro.. ou por medo do inferno, ou pelas dádivas que Deus pode conceder, vocês só não tem coragem de admitir isso porque pra admitir é preciso questionar.. e questionar, está fora de cogitação.

E eu já estava cansada disso, porque minha fome era na verdade de autoconhecimento, de mudança interior, de verdadeira transformação na minha mente. E isso, meus caros, não acontece dentro das igrejas não. Sinto muito. Você até pode acreditar que "Jesus" transformou sua vida porque você parou de fumar, parou de beber, de se drogar... mas você ainda não parou de julgar seu próximo. Você ainda não parou de se meter na vida alheia, não parou de fofocar, não parou de adulterar, você não parou de infernizar a vida dos seus filhos, você não parou de agredir a sua mulher, você não parou de abusar, de estuprar, você não respeita as escolhas e os limites dos outros.. Não, Jesus não transformou você. E, como eu sempre falo, as religiões que não trazem uma verdadeira transformação interior não passa de pomadas para amenizar a dor do furúnculo. Mas, furúnculo não se cura com pomadinha. Furúnculo só se cura se espremer. E as igrejas não permitem o questionar, não permitem que avaliemos as nossas crenças.. as igrejas são apenas pomadinhas pra aliviar, e aí, quando você não sente a dor, você acha que já está curado. Mas não está. É a xilocaína da vida, e Jesus não é xilocaína. Jesus é o dedo que espreme o furúnculo. 





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Andressa Bragança