{Devaneios - 01} Eu, primeiro. Você depois

15 de agosto de 2018







Eu, primeiro. Você depois. 

Eu sempre me preocupei em socorrer as pessoas que precisavam de mim. Sempre me importei. Fazia tudo o que estava ao meu alcance.. as vezes negligenciando minha família porque acreditava que era minha missão ajudar as pessoas.

Ao longo de 20 anos cuidei de centenas de pessoas, com os mais variados problemas. Ao longo de 20 anos tive depressão profunda 4 vezes, das quais houve tentativa de suicídio. E eu sofria, sozinha, amparada somente pelo meu marido. Mas, me mantinha de cabeça levantada porque precisava ajudar as pessoas. Ao longo desses 20 anos, tive muitos problemas. Duas gestações mega difíceis, dois pós parto igualmente complicados. E mais uma vez, estive só, apenas com o marido do lado. Mantendo sempre a cabeça erguida pra cumprir minha missão de ajudar as pessoas. Ao longo desses 20 anos, notei que a reciprocidade e gratidão não são características de pessoas que receberam minha ajuda, seja com aconselhamento, terapias, acolhimento...

Há poucos dias tive um surto. Cansaço extremo por noites sem dormir, recuperação muito lenta dos transtornos do parto, e resolvi me abrir com algumas pessoas que acreditava serem amigas, mulheres acolhedoras... E adivinha?

A partir disso, tomei uma decisão. A vida nos ensina por repetições, e por 20 anos a vida me mostrou que minha maior missão é cuidar de mim. Minha decisão consiste em não me doar tão desmedidamente como sempre fiz. No fundo, eu acreditava que me doando aos outros poderia colher apoio quando eu precisasse. Mas infelizmente essa não foi a minha verdade.

As pessoas querem de fato serem amadas, acolhidas, querem extrair de você tudo o que você tem a oferecer, mas, não estão interessadas em dar. Mais uma vez saí de algumas relações frustradas por ter criado expectativas que elas não poderiam suprir. Amizade, amor e acolhimento. Porque ninguém pode dar o que não tem.

Uma relação fica defasada quando recebe demais e o outro não. Quem recebe demais não aguenta o peso do que recebe e quem não recebe não aguento ficar no vazio. Partilhar é fundamental para que todo relacionamento seja bom.

E eu decidi. Não espero gratidão ao me doar quando achar necessário, mas também não espere de mim que eu me dê até esvaziar.

Percebo que a depressão é, em muitos casos, uma vazio pelo excesso de dar (e não receber).

Meu treinamento agora será observar quem só se aproxima afim de obter mas não tem interesse em partilhar.

Me desculpa se eu me afastei de você, mas é para o meu bem. Dói muito não ser acolhida quando precisamos. 

Quando eu tomo a decisão de não ter expectativa, de não esperar nada e de não me doar, faço isso para curar meu espírito tão fragilizado pelas pauladas da vida.

Eu amo todos os que um dia passaram pela minha vida, mas eu tenho me amado mais.

Minha missão é cuidar, acolher, mas, acima de tudo, a mim mesma e a minha família. E meu trabalho como terapeuta não teria sentido algum se eu não passasse pelas provações para aprender. É meu aprendizado que me torna capacitada. Não são as técnicas aprendidas em vários cursos.. não é a teoria. É a experiência que nos torna alguém capaz. E eu estou permitindo que a vida me ensine, para que, aprendendo, eu possa transbordar. 

Entender que não devo esperar gratidão e reconhecimento por cumprir a minha missão. Entender que não há relacionamento sem troca. Entender que eu me curando, posso curar a todos. E se me firo ou permito que me firam, firo a outros.

Estou sempre em aprendizado porque a vida é uma grande escola. E o que aprendi esses dias é que me doar demais aos outros é uma forma de não permitir que eu me cure, nem os demais. E demorou 20 anos para eu decidir o que fazer com o que já havia aprendido.

Eu sinto muito.
Me perdoe.
Sou grata.
Eu te amo.




Um comentário :

Obrigada pelo Comentário. Responderei assim que possível.
Andressa Bragança