{Resumo da Roda do Ano}

27 de outubro de 2016







Texto do Livro - A Bruxa Solitária de Rae Beth

No solstício do verão chega-se ao ápice da totalidade. Neste momento, a maré se volta. O Deus é um homem no máximo de sua força e virilidade, e a Deusa é a Rainha do Verão. Chegaram à culminação do florescimento exterior. Eles são um homem e uma mulher no topo do amor e perfeição física. No entanto, o Sol desta grande celebração, como também do ano da Terra, começará agora a minguar, dando início à jornada interior, ao reino da pós-vida, às "Terras de Verão". Assim, o Deus é transformado interiormente. "Ele zarpa para a Ilha do Renascimento"; é como se designa esta mudança simbolicamente. Exteriormente, na natureza, seu poder penetra o grão, enquanto o Sol amadurece o que a Mãe Terra produz.

A Deusa é toda beleza e abundância nesta época. Ela preside acima da transformação do Deus, pois acontece pelo seu amor. E é neste êxtase partilhado que ele se torna outro. Ela é a satisfação completa, as folhas verdes e as flores multicoloridas do alto verão, e toda a alegria, amor e paixão. Ela é, afinal, abundante, e nela nos realizamos. Em Lammas (Lughnasadh) a Deusa dá à luz. É a festa dos primeiros frutos da colheita. O Deus novamente morre pela Deusa. Seu poder penetra o milho e agora está sendo colhido, a Deusa precisa de sua energia, de sua vida, para que uma vida nova possa crescer. Ela se torna "A Implacável, a Ceifadora Cruel", assim como é a Mãe Abundância, Dama da Colheita. O Deus, após seu sacrifício como Rei do Milho, renasce, é o pão da vida. (A História Cristã da morte, ressurreição, e do pão que é o corpo, é uma variação desta, a história original.) As imagens agora são do enterro e do nascimento e, também, do pão. Um sacrifício, para que a vida prossiga.

Em tempos remotos, o sacrifício do Deus era às vezes interpretado pela matança verdadeira de um homem, mas isto provavelmente acontecia, apenas naqueles períodos da história (ou da pré-história), quando a prática pagã perdera sua pureza original e se tornara decadente. A evidência do mito e da lenda mostra que o sacrifício era seguidamente (e talvez originalmente) um substituto do homem em forma de animal, uma imagem. E na Irlanda havia a lenda de um homem enterrado na terra até o pescoço, em Lughnasadh. No terceiro dia ele era libertado. Hoje as celebrações não têm a mesma violência, porém há provas de que se derramou sangue no passado, embora não os rios de sangue derramado nas guerras modernas, como sacrifício ao deus do dinheiro. (Pois são os fabricantes de armas que lucram, em qualquer guerra.)

Em Mabon, equinócio outonal, encontramos o Rei e a Rainha da Abundância. É o Festival da Colheita. Estão cercados pelos frutos e pelo amor de suas vidas. Agora, a luz e as trevas se equilibram novamente, mas a luz míngua. O Deus é muito mais velho do que no equinócio da primavera. Este é o tempo de um ajuste de contas e de agradecimentos. É o tempo da colheita medindo também as perdas, um tempo de julgar e olhar para trás de um ponto de vista maduro. A sabedoria deve ser empregada para estas avaliações. O Rei Sol se torna o Deus das Sombras. Mesmo assim, a Deusa nos oferece fartas mesas, despensas e silos repletos. Há frutos para os pássaros nas árvores, os animais reúnem seus alimentos de inverno, tudo que a natureza supriu. É um festival de celebração, de agradecimento.

Na festa de Samhain (Hallowe'en) começamos o Ano-novo. Terminamos no início e começamos no fim. É o Festival do Retorno da Morte: os portões da vida e da morte e aqueles entre os mundos se abrem. Os vivos podem encontrar os mortos e os ainda não nascidos, para trocar amor e informação. As feiticeiras não "chamam de volta" os mortos. Elas são contra isso. Os mortos não estão e não deveriam estar à nossa disposição, pois a morte envolve vários estágios, processos, tanto purificação e reequilíbrio espiritual, como descanso e profunda comunhão com a fonte de toda a vida. Pode haver estágios de aprendizado e preparação para a nova vida, a nova encarnação. Nesta noite da morte do ano, porém, as feiticeiras abrem um espaço (psíquico) pelo retorno de Entes Queridos, se assim o desejarem e puderem.

A Deusa transforma-se na Velha, Velha Sábia, em Samhain. Ela traz conhecimentos que talvez sejam amargos a princípio, mas que conduzem à sabedoria. O Deus é o Rei da Morte, guiando através dos dias escuros no inverno.

No solstício de inverno, o ciclo interno recomeça. Não como esperamos, com a transformação da Velha Sábia na Virgem, seguindo a seqüência normal das fases da Lua. É a noite mais escura. Há uma pausa, uma expectativa. A luz renascerá? O Sol retornará? Reina profunda escuridão, como no interior do caldeirão da Grande Mãe. Neste recipiente de mudança, o antigo Rei das Sombras se transforma no Rei Sol, a Criança da Promessa recém-nascida. Em outras palavras, na época do Natal todos precisam retornar à Mãe (a velha correlação entre o túmulo e o útero). Na festa cristã de Natal, as pessoas ainda celebram o nascimento do Filho do Sol, Jesus, a Igreja tendo escolhido esse tempo como o mais apropriado para o evento. E nós todos (como que obedecendo a um arcaico chamado interno) retornamos às nossas mães pessoais, à casa da família. A não ser que sejamos mulheres maduras, e, de algum modo, mães acolhendo e cuidando de nossas famílias ou de amigos.

Ou a não ser que sejamos homens maduros, provedores, como seus consortes. Mas o papel do pai é o de ficar nas sombras, como o do cristão José. Ele representa, de certa maneira, o ano que passou. Seu filho/rival, Deus do Ano que cresce, está nascendo, um processo representado nas muitas proezas dos mímicos como os Marshfield Mummers, de Marshfield, Avon, a cada manhã do primeiro dia útil após o Natal (Boxing Day).

Em termos pessoais, um homem sensível às suas mudanças interiores pode se direcionar para uma nova orientação diante da vida, durante o, ou um pouco depois do, solstício de inverno.

Para a mulher, a experiência é também de transformação e renovação, mas enquanto ela é, na verdade, o meio pelo qual o homem volta a ser ele mesmo, renascido, na vez dela ele simplesmente a sustenta e a guia no renascimento de si própria. O papel dele é protetor.

E, assim, todos retornaram à Mãe, e começamos de novo. A roda gira. Em Imbolg, a Virgem reaparece, junto ao jovem Deus que nasceu no solstício de inverno.

No Natal, solstício de inverno, ocorre o evento mais mágico do ano. Dentro de um momento, tudo se renova. Não só morre o Rei do Ano Minguante, para renascer como Rei do Ano Crescente, mas a Deusa dá à luz o seu self mais jovem. Toda a natureza é restaurada.

Ao celebrar estes festivais, seguindo seus passos em nossas vidas, harmonizamos com o ano. E um ano natural de cujos ritmos dependemos para o alimento e para a vida (não importando quão distantes estivermos do campo). Assim, nos integramos com os padrões arquétipos de mudança e crescimento anualmente e durante o percurso vital.




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Andressa Bragança